terça-feira, 5 de novembro de 2013

Carteirinha dos leitores eloquentes - 1


O Pereio é mais Pereio do que todos os personagens que se baseiam nele.

Eu telefonei para fazermos a leitura, e ele topou na hora. Marcamos para o dia seguinte, às 10h15 da manhã. No horário marcado, ele não atendeu o interfone. Liguei para ele, mas quem atendeu foi a pessoa com quem ele havia jantado na noite anterior: ele havia esquecido o celular na mesa.

Passou mais de meia hora, e o interfone continuava chamando sem resposta. Até que, milagrosamente ele atendeu e pediu que subisse.

Quando cheguei a seu nono andar, a porta estava entreaberta, e, de dentro do banheiro, com barulho de xixi caindo na privada, ouvi sua voz pedindo que entrasse. Entrei, e ele perguntou: "Quer alguma coisa?". Eu respondi: "Não, não. Não se preocupe!". E ele: "Eu não estou preocupado.".

Ele pegou o papel com as poesias, e teve uma grande dificuldade para entender a minha letra. Isto é normal, já que até as professoras de primário que lidam com analfabetos têm dificuldades de entender a minha letra, por mais que eu me esforce. Depois de explicar a ele o que significavam aqueles sinais, ele já começou a leitura.

Logo após acordar, com o humor ruim que qualquer um tem pela manhã, agravado por ele ser o Pereio, e ser mal-humorado até quando está de bom-humor, e aos 75 anos, ele fez uma leitura perfeita, tocante, e totalmente singular. A poesia virou outra coisa, muito melhor do que antes de ele falar.

Com o trabalho feito, nos despedimos. E assim como ele fez nas outras três vezes em que nos encontramos, disse: "Prazer em conhecê-lo.".

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